A infecção do trato urinário (ITU) ocorre quando há uma resposta inflamatória à invasão de um microorganismo, geralmente bactérias, que pode atingi-lo por via ascendente, hematogênica ou linfática. Podem acometer o trato urinário inferior (cistites) ou superior (pielonefrites).
As cistites ocorrem quando a mucosa vesical é acometida e são mais comuns em indivíduos do sexo feminino com aparelho urinário normal. Considera-se que 50 a 80% das mulheres apresentarão, ao menos, um episódio de ITU em sua vida e que 10 a 15% terão uma por ano. Geralmente a primeira ocorrência de ITU é em mulheres jovens e no período de atividade sexual. Fatores genéticos, anatômicos e ambientais também estão envolvidos.
Estima-se, ainda, que possa haver recorrência desta em até 50% dos casos, especialmente dentro de um ano após o primeiro episódio. Caracteriza-se recorrência quando a paciente apresenta três episódios de ITU em um ano ou dois em seis meses. O novo quadro pode ser causado por uma nova (mais comum) ou pela mesma bactéria. Após o primeiro episódio de ITU, a paciente se torna mais suscetível a novos eventos.
Os principais fatores de risco para a recorrência são:
- Infecção prévia;
- Diabetes Mellitus;
- Gravidez;
- Atividade sexual e hábitos relacionados;
- Uso de diafragma intrauterino e/ou espermicidas;
- Anormalidades do trato urinário;
- Disfunções miccionais;
- Climatério;
- Imunossupressão e
- Bacteriúria assintomática.
Uma das causas de cistite de repetição é o desenvolvimento de resistência bacteriana a certos antibióticos.
Atividade sexual está fortemente relacionada ao surgimento de ITU. Mulheres que informaram relacionamento sexual no último mês possuem seis vezes mais chance de desenvolvê-la. Mulheres jovens que utilizam espermicidas apresentam cinco vezes mais chance de ITU.
As bactérias que causam ITU são principalmente provenientes das floras intestinal e vaginal. Cerca de 80 a 85% das ITU são causadas pela bactéria Escherichia coli. Os demais casos se devem a outros agentes, especialmente Staphylococcus saprophyticus, Klebsiella pneumoniae e Proteus mirabilis.
Os principais sintomas e sinais apresentados em vigência de uma ITU são:
- Ardência, queimação ou dor para urinar, especialmente ao final da micção;
- Aumento da frequência urinária, urgência miccional e noctúria (necessidade de levantar-se à noite para urinar);
- Alterações das características da urina, como coloração escura ou turva e odor forte ou fétido;
- Hematúria – sangramento durante e principalmente no final da micção;
- Dor suprapúbica (em baixo ventre) e/ou dor lombar baixa;
- Alterações do estado geral e febre – nestes casos é importante estar atento à possibilidade de acometimento do trato urinário superior pela infecção (pielonefrites)
Apesar de em quadros de infecção não complicada a história clínica poder ser suficiente para o diagnóstico, a confirmação somente pode ser feita pelo isolamento do agente causador em cultura de urina. Outros exames laboratoriais e de imagem devem ser complementares quando pertinente.
O principal ponto no tratamento do episódio de ITU e na prevenção da recorrência é administrar o antibiótico necessário pronta e adequadamente. Algumas medidas podem ser tomadas após o término do medicamento para evitar novos episódios, como, por exemplo, ingesta hídrica e esvaziamento vesical adequados e orientações higiênicas. Para os casos de ITU de repetição, manter antibiótico profilático em dose menor e por tempo prolongado (seis meses a um ano) ou pós-coito é uma alternativa. Ingestão diária de suco ou cápsula da fruta cranberry (Vaccinium macrocarpan) ou “vacina” (lisado liofilizado) para a bactéria Escherichia coli também podem ser opções a serem discutidas com o médico. As mulheres no climatério podem se beneficiar da reposição hormonal local, quando indicado.
De qualquer forma, a principal mensagem é a de que, tão importante quanto tratar cada episódio de infecção, é necessário fazer o diagnóstico das possíveis causas e realizar seus respectivos tratamentos, a fim de prevenir-se a recorrência ou complicação desta afecção.